quarta-feira, 28 de maio de 2008

Deus existe, e mora num rancho.

(Texto que, pela segunda vez na minha curta vida, escrevi com meu irmão Caio. Trata-se de um tema "político", e resolvi postar aqui (juro por deus!), porque uma amiga minha certa vez alegou que eu só escrevia literatura niilista (não sei bem qual o conceito que ela possui sobre este termo) no meu blog. Lá vai... Abraço, Caião (Se você se tornar requisitado, quero os royalites do tramite todo, ok?).

Deus existe, e mora num rancho.

A questão relativa ao teísmo permeia a trajetória de toda pessoa acidentalmente concebida na porção planetária denominada ocidente (por enquanto chamemos os que estão do outro lado de Greenwich de “os sem dentes”), onde desde infantes somos levados a um lugar estranho, referenciado: um templo. Os acometidos ao teísmo são apresentados ainda bem jovens aos ritos sacerdotais e, logicamente, a todo o aparato punitivo que se segue (ainda que, pelo menos desde o apóstolo Woody Allen, com direito a olhadas e eventuais beliscões nas nádegas de algumas joviais colegas do sexo oposto). Comigo não foi diferente. Apresentado aos discretos rituais baptistas (que são, por natureza, diferentes do eleitorado de Antonhy Garotinho no Rio- como a cidade maravilhosa foi se transformar num reduto evangélico da noite pro dia?), sempre fui alertado de que ‘nasci pecador e careço da misericórdia divina, pois J.C. subiu piamente ao calvário e sofreu por mim, um perdido pecador’, isso sendo eu um garoto com propensões ao mal que assolava os garotos da minha idade (o “empeludamento” das mãos). Já era chamado de perdido (não me viram depois), e o começo disso tudo começou com as dores nas costas que meu pai tinha. O pastor da igreja onde freqüentávamos teve a caridade de emprestar um vibrador para sanar as dores da ovelha do seu rebanho, não bastasse a sua preocupação com as dores da alma. O resto está impresso em cartazes propagandísticos pelos sex shops da vida.
O interessante é que, ao longo do tempo, outro elemento me era apresentado: o amor. Foi justamente a nula percepção de um amor incondicional para com o divino que me permitiu jubilar qualquer dívida que existisse, me liberando de penitências em fórum privado, tais como uma hora diária de banho, etc., embora confesse que há um residual sentimento de culpa que ronda a mim e, penso que, a todos (afinal somos ocidentais, e a energia sempre custou os olhos da cara, além da influência de Santo Agostinho ser absurda no legado ocidental). Meu primeiro amor se chamava Rosinalva, e seu cabelo vinha até a bunda.
Acontece que, divagando dia desses enquanto descascava milho no quintal de casa, e observando alguns episódios especiais do início do século XXI (e, principalmente, galvanizando esses momentos num tecido com alguma lógica ou uma matriz de unicidade cosmogânica – é assim que se escreve tal conceito?), concluí algo bastante interessante: Deus Existe!
Explico: em verdade, a conclusão a que chego é a de que o Diabo existe e, como um par antitético (ou duas faces da mesma moeda de cinco centavos de Real), se o diabo existe, logo Deus há. Portanto, a premissa de que parto é a de que existe sim o Diabo, em razão da observação pontual dos episódios que se seguem. Ei-los:

(Episódio Um, ou “Lebowski jogando boliche”): quando do atentado às torres do WTC em 11/09/01, a grande maioria dos dizimados consistia em trabalhadores terceiromundistas, alocados tanto nos staffs da gerência das empresas quanto em atividades ‘menores’, como ascensoristas, faxineiros, moleques de leva-traz, fazedores de aviões de papel, enfim: uma infinidade de chicanos trabalhando na Big Apple e em busca do sonho americano. E mais: o acontecimento elevou o então desprestigiado G.W. Bush (it) à alcunha de paladino da vendeta estadunidense. Obra de quem? Do Diabo, claro. Mas prosseguindo:

(Episódio Dois, ou “Queremos sertanejo!”): o furacão Katrina, que percorreu os EUA em 2005, ziguezagueou pelo Sul chauvinista, passou pela região petrolífera e carrasco do país e foi assolar justo quem? Os moradores de New Orleans, berço do Jazz e do Blues, capital da cultura negra do país e, logicamente, uma região menos abastada da nação (além de fazer o X Burger mais barato do país, dizem as revistas especializadas), levando a uma catástrofe de proporções dantescas. Recapitulando: o Katrina ‘driblou’ as regiões mais conservadoras e racistas dos EUA, onde se usa o milho como reco-reco, e foi aterrorizar justamente o enclave afro do país. Economizou os arianos e detonou a “negrada”. Obra de quem? Já sabemos.

(Episódio Três, ou “O homem que sabia javanês”): O Tsunami atingiu as paradisíacas praias da Indonésia, com muçulmanos torrando em suas túnicas em um sol de quarenta graus centígrados, arrebatando mais de 100 mil pessoas com sua fúria, o que não se verificou nas praias da Califórnia, Vale do Silício, Japão ou demais litorais melhor preparados para esse acidente (não afetando, infelizmente, a praia de Malibu e adjacências). Lambeu o litoral de uma das regiões mais belas e mais pobres do globo. Obra de quem? Do cão, como diria Virgulino, “O capitão”.

(Episódio Quatro, ou “Adeus, Al Gore”): essa é demais... O aquecimento global, que aparentemente levará todo o globo igualmente a sofrer com a elevação da temperatura (fazendo com que, pela primeira vez na história, pingüins deixem de receber dos governos da Islândia e da Dinamarca o seu quinhão na seguridade social dos respectivos países), também tem o dedo do tinhoso: o aquecimento levará as regiões temperadas do norte (leia-se EUA e Europa) a temperaturas mais elevadas, contribuindo assim com sua maior capacidade de produção de gêneros tropicais em sua cadeia agrícola, principalmente de alimentos, levando à redução de sua dependência de exportação de gêneros de primeira necessidade e, aliado à tecnologia de ponta, proporcionando diversidade em sua produção agroindustrial, além de continuarem produzindo vinhos melhores que os argentinos. Em contrapartida, as regiões subtropicais do sul (leia-se África e Sul América – Argentina inclusa -) deverão constatar elevação da temperatura a níveis insuportáveis e degeneração de suas floretas tropicais, evoluindo para um quadro de desertificação e de calor insuportáveis em longo prazo, como alegou o subsecretário de obras da cidade do Rio de Janeiro em fevereiro passado: “Não haverá verbas disponíveis para a ampliação do Pscinão de Ramos”. Obra de quem? Pode um troço desses?!

(Episódio Cinco, ou “Foi Santos Dumont quem inventou o avião!”): esse é o demus brasillis: em outubro de 2006, um avião da empresa GOL com mais de 150 brasileiros colidiu no ar com um jatinho Legacy, com 06 estadunidenses nos céus do Mato Grosso. O que aconteceu? O jatinho do Tio Sam teve uma pequena avaria, que o permitiu continuar viagem enquanto o avião com os 150 brazucas CAIU DE BICO no meio da selva, não deixando um sobrevivente, além de desmatar ainda mais a nossa já tão dizimada flora (gerando um problema a mais para a então ministra do Meio Ambiente Marina Silva). Detalhe: a falha para que houvesse a colisão foi do jatinho Legacy. E então? É legal isso? Alguma dúvida de quem operou este milagre?

Ao interligar esses episódios (repetindo: enquanto descascava meus milhos tranquilamente), fica nítida a interferência do Demo para que essas catástrofes viessem a aterrorizar os representantes que vivem abaixo da cidade de Paris, Texas (Deus salve Win Wenders!). Ou simplificando: mesmo em eventos aparentemente aleatórios, quem está por baixo se dá mal, como mestre Gonzaguinha brilhantemente aduz: “pobre não tem mesmo vez, não dá sorte ou dá azar”. E nisso tem, é claro, é lógico, é inegável, salve-salve, o dedo do Diabo. Portanto, ele existe e, se ‘ele’ existe, “Ele” também há: Deus existe. Ou não?
Podemos confabular o seguinte, revisando os episódios: 1 ) No ‘atentado’ ao WTC, é muito pouco provável que os proprietários das empresas, os detentores das ações e também os presidentes e principals, estivessem no prédio, afinal de contas, quem estava lá estava a trabalho, ou matando trabalho. Eram o contingente executor, formado por brilhantes engenheiros indianos, hábeis faxineiros mexicanos e alguns titulados latino-americanos, além dos habituais chineses vendendo yakissobas nas calçadas adjacentes. Logo, foram esses os vitimados: La vida és muy dura! 2 ) Com todo o aparato meteorológico-bélico-pentagonal-oxágonal-instrumental, não seria tão desconhecido o traçado do furacão Katrina (pois afinal, como sabiam o seu nome, hein? Hahã, peguei vocês!), assim como os procedimentos contingenciais do governo minimizariam a catástrofe humana, mas isso não aconteceu. Ficou claro o descaso do Estado, e do presidente texano para com os afro-descendentes abatidos pelo Katrina (talvez porque Bill Clinton toque saxofone, e Wynton Marsalis seja o diretor do Lincoln Center em NY), baixas talvez sem muita importância para as bandas cover do Willie Nelson. 3 ) A possibilidade de ocorrência de ondas do tipo Tsunami é monitorada por países como Japão e Austrália, mas somente nas imediações de seu território, protegendo origamis (que possuem uma natural capacidade de alçar vôo) e ovelhas. Assim, não se pôde prever a catástrofe que abateu sobre a população da Indonésia, com seus surfistas de trens. Mas vale uma ressalva: as populações litorâneas, inebriadas pelo turismo e pelo canto da sereia dos Dólares e Euros, deixou de lado seus costumes seculares, pois não codificaram a linguagem dos animais que, minutos antes da chegada das ondas gigantes, rasparam el gatón (para usar uma expressão local, introduzida por um colonizador espanhol já no séc. XVI). Ainda, as fotos demoraram a chegar à internet, devido ao fato de que as máquinas fotográficas dos turistas estarem com os cartuchos cheios de fotos de surf e nativos sorrindo, tendo que ser deletadas primeiramente. 4 ) O aquecimento global pode ser contido para evitar o aumento da discrepância entre norte e sul mas, com um indicador como o da prosperidade agrícola do norte, os EUA, maior emissor de gases que destroem a camada de ozônio, continuam a desrespeitar o Protocolo da ilusória cidade de Kyoto (pois não existe tal lugar nas agências de turismo). Mas eles podem: afinal, império é império, ou alguém pergunta às formigas se podemos pisoteá-las, a não ser biólogos com bolsa de estudos da FAPESP especializados em tal inseto?
Dessa forma, desdigo o que propus acima e, em nova conclusão, concluo por assim ser que o diabo não existe, e se ‘ele’ não existe, ‘Ele’ não há!
Ah! Ia me esquecendo... O episódio do jatinho Legacy e do avião da Gol: Não teve a pachorra nem de cair numa plantação de soja transgênica... Em se tratando do Brasil, isso sim é obra do Demo! E fui cuidar do meu milho... Também vivo num rancho, ora pois!

Caio e Franco Chiariello.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Sem título (que eu saiba)...

(Poema que o meu amigo Jeff "cabeção" Anderson teve a audácia de me mandar, e eu tenho a pachorra de postar. Abraços...)


"Leia o texto abaixo e depois leia de baixo para cima"

Não te amo mais.
Estarei mentindo dizendo que
Ainda te quero como sempre quis.
Tenho certeza que
Nada foi em vão.
Sinto dentro de mim que
Você não significa nada.
Não poderia dizer jamais que
Alimento um grande amor.
Sinto cada vez mais que
Já te esqueci!
E jamais usarei a frase
EU TE AMO!
Sinto, mas tenho que dizer a verdade
É tarde demais...
(Clarice Lispector)

domingo, 25 de maio de 2008

Poema do Domingos de Oliveira.

(Este poema "sem nome" que posto aqui está num filme do Domingos de Oliveira que, até estes 25 anos da minha curta e fanfarrônica vida, devo ter assistido umas também 25 vezes (sério). O filme se chama 'Separações", deste que alguns chaman de "o Woody Allen brasileiro"; acho uma relativa besteira esta colocação, mas se por uma fatalidade desta coisa sem pé nem cabeça que os butistas chamam de "destino" for correta, creio ser mais conveniente chamar o Woody Allen de "o Domingos de Oliveira deles", pois ele começou a fazer o "tipo" de cinema que faz alguns anos antes que o também mestre de Manhattan, ok? Um abraço para os dois gênios: o do Baixo Leblon e o do Brooklyn. E pras agora reduzidas cinco almas que passam por aqui também... menor, mas também.
Agora eu sei que te amo, de fato.
Mais que minhas rimas ou primas,
Ou outras que vieram depois.
Pois porque eu sou porque sois,
Além da lua, além dos sóis que vimos juntos,
Ou quaisquer outros assuntos, agora eu sei.
Eu vos amo mais do que temo a morte.
Eu reconheço a fonte dos nossos problemas:
É que antes, e cedo,
Eu fiquei com medo de te escrever
Poemas.
Domingos de Oliveira.

domingo, 18 de maio de 2008

Poema para um poeta pálido.

(Bobagem tamanha que tenho a pachorra de publicar aqui, ante as tais seis retinas que vez ou outra bobeam por estas bandas...é em homenagem ao amigo Diogo Parra (vulgo "Renatinho"), que está no blog indicado na lista dos meus blogs camaradas, etc. e tal... Abraços...)

Poema para um poeta branco.

Amigo poeta:
Dia destes, lendo seus garranchos
Enevoados de vinho e noite,
Reparei um troço, por sinal
Mui elegante:
Adoras o sol!
É, adoras sim, e por sinal
(e no entanto, não faz mal)
És branco, quiçá mais até
Do que o próprio sal!
Gostas do sol, mas é branco
Como a lua que te faz tão mal!
Como pode?
Qual será o mistério?
Serão as tais jurisprudências da vida
Que te faz ficarem horas e mais horas
(certo estás que por muito tempo não pretendes)
Nos corredores do Fórum João Mendes?
Ou aquele encanto distante que temos
(e pretendemos)
Manter justamente com aquilo
Que nos faz comer as nossas almas e mentes?
Se te afastas por muito tempo,
A inspiração necessária se esvai pelos dedos
Que automaticamente se tornam dormentes
De tanto desatino que dá a distância por si
Só.
Se te aproximas, corre o risco de ter o tédio
A te comer pelas bordas, pelo meio
E por tudo o mais que, desde os gregos,
Temos o bom hábito de chamar de
Vida.
Que fazes, afinal, pálido amigo:
Decifra-te ou te devoras?

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Scarlet.

(Para as seis almas que vez ou outra pintam por aqui, aí vai um poema do velho e bom Bukowski, só pra lembrar de coisas essenciais da vida humana - sem colocar Lair Ribeiro no meio, naturalmente -)

Scarlet.

fico feliz quando elas chegam
e feliz quando se vão

feliz quando escuto os saltos
se aproximando de minha porta
feliz quando esses saltos
se afastam

feliz por foder
feliz por me importar
feliz quando tudo termina

e
desde que as coisas ou estão
começando ou terminando
fico feliz
a maior parte do tempo

e os gatos caminham pra cima e pra baixo
e a terra gira em torno do sol
e o telefone toca:

"é a Scarlet".
"quem?"
"Scarlet."
"certo, pinta aí."

e desligo pensando
talvez seja isso
entro
dou uma cagada rápida
me barbeio
me banho

me visto

ponho o lixo
e as caixas cheias de garrafas vazias
pra fora

me sento ao som dos
saltos se aproximando
parecendo mais a aproximação de um exército
do que o som da vitória

É Scarlet
e na minha cozinha a torneira
continua pingando
precisando de concerto.

cuidarei disso mais
tarde.