quinta-feira, 10 de abril de 2008

Lou Reed na Calixto.

( Mais uma crônica da série "Crônicas beneditinas", esta em homenagem ao mundo da música pop. Ofereço ela à Carlinhos, que tem o bom hábito de matar as horas do seu trabalho lendo coisas inúteis - como tudo aquilo que o homem cria - na internet, para desbaratear sua chefa)

Lou Reed na Calixto.



Do meu lado trabalha um camarada chamado Gil, Gildário. Vende cd`s piratas, gravados, genéricos, depende de quem está falando. Enfim, vende cd`s também, em MP3. Muita coisa fina, desde Jacob do bandolim até jazz, coisas assim. Mas têm um ou outro Linkin Park, essas coisas também. Pouco, mas tem. Fala o dia todo, pelos cotovelos. Quando toma umas e outras então, puta que pariu. Ninguém agüenta. Mas é gente fina, um cara legal. Anda um pouco tristonho, terminou um casamento de uns sete, oito anos. Quando alguém pede algo como “Rebelde”, “Amado Batista”, diz sempre que não trabalha com droga pesada, que seu negócio é no máximo um baseadinho. Geralmente nêgo não entende, sai andando. Fuma maconha o dia inteiro, no duro. Não sei como consegue se manter em pé. Qualquer dia a sua cabeça vai explodir, virar fumaça, de tanto fumo acumulado.
Dia desses me aparece na banca dele o Otto, cantor, ex-percussionista do grande e salve-salve Mundo Livre S/A. Não gosto muito dele não, acho suas letras fracas e um pouco porra-louca demais para meus ouvidos. Uma espécie de quase Lou Reed brasileiro, só que casado com a delícia da Alessandra Negrini, o que denota uma característica de que a mulher o salvou dos arcabouços do inferno, ou algo assim. Muito “style” para mim. Pois bem. Aparece na banca do Gil e começa a olhar os cd`s, fuça na caixa, olhando, olhando. De repente, encontra um cd com seus discos, todos os seus poucos e fracos álbuns, compactados em MP3. Olha perplexo, se vira para Gil e diz:
- Rapaz, você está vendendo meus discos aqui, bicho. Não pode não, pô! Ce tá pirateando meu trabalho, cara. Não pode não, pô!
No que Gil vira pro camarada e diz:
- Porra, meu irmão! Qual é? As pessoas vão conhecer sua música e ir aos seus shows, e isso não é bom não? É bom para você sim, cara! Pensa nisso. Bom para mim e bom para você também, bicho!
Mas a figura parecia resolvida a aporrinhar a vida do meu colega de ofício:
- Mas fui eu quem compôs as músicas, quem gravei todas elas. Você não pode ganhar dinheiro em cima do meu trabalho não, bicho! Não é justo, cara!
Gil olhou para mim, já devia estar um pouco com o ovo virado daquele papo todo, e disse para o Lou Reed brasileiro:
- Quer saber de uma coisa? Pode levar essa merda embora pra sua casa. Ninguém compra mesmo, entendeu? Ninguém gosta da sua música, nem eu e nem ninguém, tá entendendo? Olha só, ainda mais do lado da discografia completa do Miles Davis, olha isso! Um horror, uma verdadeira afronta! Vai, leva essa merda e não volta mais aqui não, amigo! Nem eu e nem ninguém gosta desse lixo que você faz!
O cara ficou atônito, enquanto Gil pegava o cd e tentava entregar para nosso amigo. Ele virou e disse um “não é assim não, rapaz”, e Gil retrucou decidido que não tinha outro jeito, que era melhor para o ouvido das pessoas e para o bolso de ambos. O cara se virou e foi embora, sem saber o que fazer. Rimos o dia inteiro, feito loucos, enquanto nosso astro pop devia estar concedendo alguma entrevista para alguma revista cult da vida, dizendo sobre o processo de criação de suas canções, de como seu casamento era perfeito, etc. Um verdadeiro Ottar.. Assoviando “Tchu, tchurup, tchup-tchup-tchup-tchurup-tchup, tchurup, tchup-tchup-tchup-tchurup-tchuuuuuuup”.

2 comentários:

Raquel disse...

Adorei... Seu amigo foi perfeito e pontual... E ainda dizem por aí que o uso excessivo de
cannabis, "afeta os neurônios"!! Balela! Muito bom... Dei muita risada! Bjs.

Franco disse...

É, pois é Raquel... e o pior de tudo é que esta crônica aconteceu mesmo!!! Por mais que o filho da puta fume o dia todo, solta umas bem pontuais quando lhe apetece! Obrigado pelo comentário, gostei de você ter gostado...um beijo!