sexta-feira, 13 de junho de 2008

Ri Happy!

(Frisando: esta crônica só tem razão de ser por conta do tédio e da insônia; não quero ser julgado pela história, como Eichman, por conta dela, ok? Abraços risonhos...)

Ri Happy!

Acho que não me cai bem crônicas datadas historicamente, coisa e tal, pois me parece que elas são inevitavelmente presas num nexo de tempo que foge à regra da atemporalidade e da tal universalidade (se tivesse mais alguma palavra bacana com o final “dade”, pode ter certeza que eu acrescentaria). Quem pretende ser gênio não pode se dar ao luxo de escrever tal coisa. Mas eis que, novamente enfurnado nos livros do filho da puta do Rubem Fonseca (em outro lugar já disse que este canalha me come a alma), li uma crônica dele quando da queda do muro de Berlin. Ele estava lá quando o muro ruiu (pasmem!), e descreveu coisas sobre o grande acontecimento, com a genialidade que o consagrou como escritor. Tanto faz.
O importante (para quem, afinal?) é que, justo nesse dia dos namorados, eu não tinha a menor idéia do que dar de presente para a dita cuja que tem o azar de dividir coisas e dívidas de pôquer comigo. Eram seis e meia da tarde e corri para a Rua Teodoro Sampaio atrás de alguma coisa bacana para comprar para uma mulher que já recebeu como presente calcinha do Fausto Falsete, jogo de dardos da Estrela e livros do Pedro Juan Gutiérrez que, não sei bem o porquê, ela jurou que eu tinha dado pra ela para eu ler depois. Intimidade é uma merda.
Sei que entrei em lojas estranhas, balconistas uniformizadas tentaram me vender de tudo (de chapinha de cabelo a lingerie pornô – legal, por sinal), com direito a comissões que variam de 1 a 6 por cento para elas. Normal que seja assim. Sei que, depois de tanto bater perna, isso lá pelas sete e tantas, e com as retinas já viradas de tanta bugiganga saltando às vistas, entrei numa loja de brinquedos, a Ri Happy!. Entrei e a primeira coisa que vi foi uma prateleira que devia ter uns 6 metros de altura cheia, lotada, estrebuchando de bichinhos de pelúcia. Caia no chão, de tanta fartura (mesmo depois do escândalo na China, com recheios com produtos tóxicos, etc.). Estava cansado, querendo tomar um porre de vinho, fumar um habano, apostar em máquinas de videopôquer, jogar pingue-pongue, fazer qualquer coisa mais radical do que aquela empresa a que estava me dedicando. Nem pisquei e a vendedora me mostrou um boneco do X-man; um banco imobiliário; dinossauros de borracha e uma réplica do Indiana Jones enorme . Mas quando ela me mostrou um sapo que cantava Only You, meus olhos se encheram de lágrimas: era aquilo que estava procurando! Ela apertou a mão do bicho e ele cantava a música inteirinha! Cara, um novo mundo se abriu para mim: percebi que estava envelhecendo; que qualquer réplica de algum animal feito a base de poliéster me emocionava; que minha barriga crescera nos últimos meses; que voltei a ouvir rock e assistir Chaves; e que, de um jeito ou de outro, era um pateta com 25 anos de idade gastando uma pequena fortuna com a coisa mais nonsense que havia visto nos últimos tempos.
Paguei pelo sapo, mas ela gostou. Rimos, tomamos vinho, fizemos amor e pensamos na vida depois disso tudo, fumando um Churchill, naturalmente. Bacana essa coisa toda do sapinho que canta, até o Rubem Fonseca, no auge dos seus setenta e lá vai paulada iria gostar... Haha, a vida é bela!

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