(Coisa besta e sem sentido, mas vá lá...)
Escrever, depois colar.
Eis que, lendo uma antologia de contos do grande Moacyr Scliar, caio de cabeça num conto chamado Os contistas. Pois bem. O conto trata do lançamento de um livro de contos de um amigo seu de ofício, e o Autor (no caso, o Moacyr Scliar) diz para todos que está escrevendo um conto sobre contistas. Relata as angústias de sua carreira, a dificuldade de publicar, a obscuridade que começou a aparecer durante o tempo, as frases concisas e os excessos que, inevitavelmente, atormentam a cabeça do autor, etc. Um puta texto, pensei. De repente me veio uma coisa, uma idéia genial: por que não sair distribuindo meus contos por aí, sem critério nenhum...por exemplo, colar alguns contos meus nas cabines de banheiros por aí, quem sabe para incentivar o hábito da leitura enquanto as pessoas cagam, ao invés de ficarem olhando para os azulejos, ou a procura de baratas em algum banheiro sujo? Aliás, um dos contistas narrado por Scliar só consegue escrever em banheiros, enquanto caga, tendo espalhados pelos banheiros afora fragmentos e mais fragmentos de contos. Além do mais, já havia escrito um conto narrando uma história que se passa dentro de uma dessas cabines. E lá fui eu.
Fita crepe e páginas e mais páginas na mão, saí colando em tudo quanto é banheiro, na minha faculdade e em bares, restaurantes, Shoppings e afins. Nenhum critério na cabeça, só este: colar o máximo de contos possíveis, seja lá onde for. Era quase uma pichação, só que em contos. E privadamente. É, no literal. Rapaz, será que isso já havia sido feito antes? Nunca tinha visto nada igual. A moçada que pira naquilo que chamam de “performance” iria gostar? E os que sofressem de hemorróidas? Os velhos, os trotskistas, que achariam? E os punheteiros, será que iriam ler? Só havia uma regra, que impus para mim mesmo: não deixaria meu nome. Possivelmente um ou outro amigo saberia daquilo, seria inevitável, pois alguns já tinham lido algumas coisas minhas. Não quis nem saber: fui logo tratando de colar palavras impressas em papéis brancos pelas cabines afora, com fita durex de boa qualidade. Não era marketing, era prazer. E só.
Semanas depois, revisitei um ou outro lugar. Alguns telefones para me chupar, outros perguntando quem eu era, um ou outro dizia “que merda”, e por aí foi. Um dizia que trabalhava numa editora, e deixou um telefone para contato. Outro escreveu que tinha um conto parecidíssimo com o que ele havia lido. Disse não estar mais só no mundo. Um ou outro havia sido arrancado, mas a maioria permaneceu lá, do jeito que colei. Não mudarei o mundo, mas, como disse certa vez Pedro Juan Gutierrez, fiz alguma coisa de mim mesmo, ainda que mínima, porque estava precisando justamente de alguma coisa que me fizesse pular.
domingo, 29 de junho de 2008
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