domingo, 29 de junho de 2008

Escrever, depois colar.

(Coisa besta e sem sentido, mas vá lá...)

Escrever, depois colar.


Eis que, lendo uma antologia de contos do grande Moacyr Scliar, caio de cabeça num conto chamado Os contistas. Pois bem. O conto trata do lançamento de um livro de contos de um amigo seu de ofício, e o Autor (no caso, o Moacyr Scliar) diz para todos que está escrevendo um conto sobre contistas. Relata as angústias de sua carreira, a dificuldade de publicar, a obscuridade que começou a aparecer durante o tempo, as frases concisas e os excessos que, inevitavelmente, atormentam a cabeça do autor, etc. Um puta texto, pensei. De repente me veio uma coisa, uma idéia genial: por que não sair distribuindo meus contos por aí, sem critério nenhum...por exemplo, colar alguns contos meus nas cabines de banheiros por aí, quem sabe para incentivar o hábito da leitura enquanto as pessoas cagam, ao invés de ficarem olhando para os azulejos, ou a procura de baratas em algum banheiro sujo? Aliás, um dos contistas narrado por Scliar só consegue escrever em banheiros, enquanto caga, tendo espalhados pelos banheiros afora fragmentos e mais fragmentos de contos. Além do mais, já havia escrito um conto narrando uma história que se passa dentro de uma dessas cabines. E lá fui eu.
Fita crepe e páginas e mais páginas na mão, saí colando em tudo quanto é banheiro, na minha faculdade e em bares, restaurantes, Shoppings e afins. Nenhum critério na cabeça, só este: colar o máximo de contos possíveis, seja lá onde for. Era quase uma pichação, só que em contos. E privadamente. É, no literal. Rapaz, será que isso já havia sido feito antes? Nunca tinha visto nada igual. A moçada que pira naquilo que chamam de “performance” iria gostar? E os que sofressem de hemorróidas? Os velhos, os trotskistas, que achariam? E os punheteiros, será que iriam ler? Só havia uma regra, que impus para mim mesmo: não deixaria meu nome. Possivelmente um ou outro amigo saberia daquilo, seria inevitável, pois alguns já tinham lido algumas coisas minhas. Não quis nem saber: fui logo tratando de colar palavras impressas em papéis brancos pelas cabines afora, com fita durex de boa qualidade. Não era marketing, era prazer. E só.
Semanas depois, revisitei um ou outro lugar. Alguns telefones para me chupar, outros perguntando quem eu era, um ou outro dizia “que merda”, e por aí foi. Um dizia que trabalhava numa editora, e deixou um telefone para contato. Outro escreveu que tinha um conto parecidíssimo com o que ele havia lido. Disse não estar mais só no mundo. Um ou outro havia sido arrancado, mas a maioria permaneceu lá, do jeito que colei. Não mudarei o mundo, mas, como disse certa vez Pedro Juan Gutierrez, fiz alguma coisa de mim mesmo, ainda que mínima, porque estava precisando justamente de alguma coisa que me fizesse pular.

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