terça-feira, 22 de julho de 2008

Probabilidades.

(História contada assim, ao pé da letra, pelo amigo de engradados Indrigo...pra você, figura louca...)


Probabilidades.

Ok, ok... Tempos sem escrever crônicas, amigos putos e preocupados, mulheres tristes pelos cantos da cidade (os homens nunca ficam muito tristes), decido voltar à ativa... Queria ser mesmo é o Rubem Braga, viver disto, ter nascido numa cidade como Cachoeira do Itapemirim, sei lá que diabos mais... Enfim... Mas não: Não me ponho como um velho (apesar do velho e bom Rubem já o fazer com apenas quarenta e poucos anos), não sei tratar as moças com o devido trato (prefiro o “ao vivo”, sabe cumé?), e me formo sociólogo no fim do ano... “Triste destino para o pobre Pieckles”, diria Paul Auster. É, caro leitor: La vida és dura...
Mas chega de chororê, e chega de saudades, pois o meu conto sobre Bossa Nova não foi publicado pelo Estadão, minha conta bancária cai mais que a tal da Bovespa, e a felicidade está como o pretenso projeto Brasil: Longe, longe do horizonte... Mais eis que nem tudo são nuvens, e uma história me aparece! Sim, apesar de não viver disso, ainda tenho a pretensão de conquistar algum coração lá em algum rincão do sertão brasileiro...
Amigo de longos choros e chops (mais o segundo que o primeiro), Tonhão me conta esta, numa noite enevoada por saias e nuvens, extrato de amido engarrafado e tabaco que, por enquanto nessas bandas, ainda não é discriminado. Vai pra casa com uma mulher, a despe, ela não diz nada a mais de uma hora (diz ele que se encantou por conta da sua mudez), e pimba! Gol do Brasil – “Temperamento latino é fogo”, diria o outro – e nosso herói vai... E vai... E pinta um troço ali que é o seguinte: A mulher é chegadaça numa... Forçada de barra... Num... Sabe como é caro leitor? Ta, ta bem: a mulher era chegada em músculos... Sendo usados... A força... O código penal chama de estupro... Enfim, fico aqui me policiando para escrever isso, mas Nelson Rodrigues o fez com palavras quiçá mais sucintas, e eu não poderia tropeçando nelas? Oras... É isso, e é tudo: A mulher gostava de ser estuprada! E meu amigo entrou na onda...
Disse-me ele que, isso lá pelas uma e pouco, ela decide ir embora, tem que trabalhar no outro dia, o diabo a quatro... Ele, meio torpe e nem um pouco afins, diz pra ela dormir ali mesmo, etc. e tal... Ela, nada comovida com o convite entusiasmado do rapaz, nega: Trabalha sério, quer juntar dinheiro pra abrir negócio próprio, etc. e tal... Ele balbucia, mas não tem jeito não: A cabocla estava convencida, e nessas horas, quando uma mulher sabe o que quer, retórica besta é pouca coisa... E lá vai ele, levá-la pro ponto de ônibus, três quarteirões da casa dele.
Chega lá, umas duas garotas no ponto, serviço completo... A garota chia, o ônibus vai demorar uma meia hora, está ansiosa pra chegar ao seio do lar... Ele a convida pra ir à sua casa, que é do lado, etc... Ela diz um não, que tem que ir pra casa... Ele então diz que vai embora, que não vai ficar lá, que está cansado... Ela faz uma cara de brava, como aquelas mulheres que mostram estar cansadas de homens que as comem e que después nem lhes dão valor, aquela coisa toda... Ele olha bem pra ela, lhe dá um beijo no rosto e diz tchau... Ela diz:
- E se eu for estuprada aqui, a esta hora? Vê se pode um troço desses!
- Meu bem, ninguém conseguiria estuprar três mulheres de uma tacada só, pode ficar tranqüila...
- Ah, é?
- É... Além disso, meu bem, estatisticamente é impossível alguém ser estuprada duas vezes na mesma noite, pode ficar sossegada...
E foi, assoviando, para o seu edredom, quente e acolhedor.















Franco Chiariello, Escutando coisas...

Nenhum comentário: